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09 dezembro 2016

1. A senhorinha do ônibus


"[...] Prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida"

Em tempos de bem querença fútil e levianamente passageira, deparei-me com uma simpática senhora em algumas das muitas viagens de ônibus por Salvador.  

É preciso enxergar quem nos rodeia e principalmente, o que quem nos rodeia enxerga.
Foi em uma troca de olhares despretensiosa, ao captar o olhar vago e triste acompanhado por um longo suspiro, suspiro de quem está cansado, suspiro para abafar um pedido de socorro que eu perguntei "está tudo bem com a senhora?" que recebi todo o dilúvio de dores.
"Estou bem ... Meu marido é interno no Hospital Sarah e vou vê-lo... Todos os dias. Ele não pode ficar em casa por causa dos aparelhos necessários ao tratamento, nossa casa não tem estrutura. Então eu vou até ele. Cuido, limpo, observo. Nossos filhos? Têm suas vidas. Ele tem a mim e eu a ele. Não aguento mais fazer muita coisa, sabe? Sinto dores e as enfermeiras pouco ajudam.

A senhora é uma guerreira! 
Depois desse desabafo nos vimos em poucas oportunidades, sempre me dirigindo um sorriso montado ao entrar e deixando o "deus abençoe" ao sair. Estávamos na rotina uma da outra, pontualmente às 6:50 da manhã, até que ela parou de frequentar o ônibus, pelo menos no mesmo horário que eu. Há meses não a vejo. Me pergunto se o marido dela melhorou e recebeu alta, o que justificaria suas ausências, não precisaria mais ir ao Hospital, pergunto-me se ele faleceu e se estaria precisando de um abraço reconfortante. O fato é que não sei o que houve, que gostaria muito de saber e sinto falta da doce senhora que me mostrou que ainda é possível casais reais firmarem uma união de longa data e o amor perdurar, mesmo com todo o sofrimento, mesmo com todos os sacrifícios. 

A senhora que não me contou o nome, mas sim sua história de amor, não se queixou de se deslocar diariamente até o leito hospitalar, de morar sozinha, de se sentir só, da doença do marido ou da negligência dos filhos. Ela só expôs o quanto precisava e queria estar do lado dele e não desistiria de buscar, não desistiria deles. 

Enquanto estamos banhados de amor líquido, o casal permanece intacto na secura de suas peles e na solidez sacramentada, já experimentaram as gotas, correr por entre elas, mas hoje preferem a calmaria, a espera do sol abrir novamente, sem riscos, porque enquanto estiverem na companhia um do outro valerá a pena, para sempre.

Pesa, não apenas, tão somente a massa corpórea, a aliança pesa. O elo para toda uma vida

Muito prazer em conhecê-la. Seja feliz! 
 



3 comentários:

  1. Hei, moça!
    Parabéns pelo belo texto!
    Só queria dar uma dica sobre a fonte da letra no trecho das falas, ficou um pouco clara, se puder por em uma cor mais escura seria de boa ajuda na leitura

    Ah, mais uma vez, parabéns pelo texto! (alá a jorge amado xD)

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  2. Hey!
    Muito obrigada!
    Já corrigi. Agradeço por reportar o erro. Volte sempre :)

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  3. Anônimo7/19/2017

    me parace que uma escritora estar nascendo,ou já nasceu,parabens!!! boms textos.

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